segunda-feira, 6 de abril de 2015

Ela apenas é.

A luz do sol fazia um belo contorno ao redor dela. Com os pés enlaçados um no outro, ela estava deitada naquela rede velha, toda colorida, com um cacho de uva na mão. Parecia uma moleca daquele jeito. Ela jogava algumas em minha direção, para eu tentar pega-las com a boca. Quando errava, ela gargalhava, como seu eu fosse a pessoa mais engraçada do mundo. Ela ria tão bonito, que comecei a errar propositalmente. Eu estava logo atrás, sentado na cadeira de balanço do meu avô. Dedilhava uma música sem melodia no violão, enquanto em silencio, a observava. De olhos fechados, ela mexia as mãos no alto, como se regesse uma orquestra. –“ Não pare, John, não pare.” Mas então ela veio até mim caminhando, com passos tranquilos e seguros,  e me tomou pela mão. Larguei o violão e iniciamos uma dança, no silencio. Uma música nossa. Enquanto ela acariciava minha nuca, desejei que aquele momento jamais acabasse. Um passo em falso e quando percebi, estávamos os dois no chão. O sol refletia na blusa vermelha dela, e aquela cor, naquele momento, ela parecia um planeta. Marte. Quente. Um lugar que só eu habitava. Ela então me beijou, demoradamente. Quando nos soltamos, olhei bem em seus olhos de jabuticaba e disse: “Casa comigo Duda?” Ela rolou pro lado, rindo. “Ah John, você é tão... Previsível! Venha, vou fazer uma coisa pra você.” Ela me sentou na mesa enorme da minha vó, e começou a bater rapidamente as portas do armário, em busca de alguma coisa. “Vou fazer um bolo pra você, John. Um bolo de amor.” E foi ali que eu percebi, que não importava o que acontecesse, valeu a pena. Se nossa vida acabasse agora, valeu a pena cada segundo só por eu a ter conhecido. Valeu a pena porque tudo que há nela falta em mim. E tudo que ela faz é certo. Ainda que seja errado, é certo. E lindo. Porque ela simplesmente é, tudo... Tudo que há de extraordinário.  Ela é a tristeza e a alegria andando junto. Porque ela é a luz na escuridão. Ela é a areia do mar. Ela é a faísca que mantém toda a nossa brasa acesa. O meu começo, meio e o fim. Ela é o lugar que eu escolhi pra morar. E ficar, pra sempre.


Um comentário: