Me sinto muito, muito pequena quando penso na gente. É como se eu pudesse ser dobrada milimetricamente, colocada dentro de uma caixinha e fosse arremessada no fundo do mar. Quando penso em você, é como se meus pulsos estivessem amarrados e minha boca, lacrada. Eu tento gritar, mas quando me lembro do seu nome é como se minha garganta estivesse sendo arranhada. Para todos os lados em que olho, vejo você e sua expressão me entristece. Sua expressão diz: Perdão. Demorei muito tempo para perceber que todos esses sintomas são efeitos colaterais da culpa que carrego no peito. Foi assim pra você também? Como foi conviver com a culpa? Me ajuda, porque eu não estou conseguindo. Seja lá onde você estiver, consegue me ver? Pode ver que eu finalmente perdoei você? Me pego sempre colhendo os restos que sobraram da nossa história e cada um deles martela um pedaço do meu corpo quando os reconheço. Eu também fui falha com a gente, e com você aprendi que nada deve ser passado em branco. Dói saber que talvez eu tenha aprendido tarde demais. Depois que você foi embora, meu refúgio foram as palavras, então me apego a elas e torço para que você as leia e assim, me reconheça nas entre linhas deste texto que deixo como meu adeus. É muito exaustivo olhar para o fundo do poço que virou a minha vida e estar sempre à sua procura como se eu pudesse mudar todo o nosso passado. Sei que na verdade, você não estaria feliz em me ver assim, lembrando-me de nós sempre com tristeza e arrependimento. Não há nada a fazer com relação ao que ficou lá trás, não posso mudar as escolhas que fiz, muito menos reorganizar seus pensamentos para evitar as atitudes que você teve. Mas posso impedir que no futuro tentem me cegar como você fez. Posso não deixar que errem comigo outra vez e esse amadurecimento devo a você. Todo o meu aprendizado e a pessoa que me tornei, devo a você. Meu crédito na sua conta bancária sempre estará negativo e eu jamais poderei pagá-lo. Mas preciso deixá-lo ir, para sempre. Amar é isso, deixar livre. Não te quero mais assombrando o meu presente, invadindo meus pensamentos e me aterrorizando com situações que não tenho mais controle. Eu não quero mais lembrar, mas não vou te esquecer. É uma promessa. E eu nunca as quebro, você sabe.
Tão sensível. Tão forte. Tão pequena. Tão grande. Tão irônica. Tão carinhosa. Tão bipolar. Tão frágil. Tão ciumenta. Tão eu.
quinta-feira, 30 de abril de 2015
quarta-feira, 29 de abril de 2015
Simplicidade.
“O que te faz feliz?” Ele me perguntou enquanto
caminhávamos. Olhei para os próprios pés, nossos calçados estavam cobertos
pelas folhas do outono.
Livros. Contar estrelas. Música. Fazer bola com chiclete.
Amar. Subir escadas rolantes que
descem. Beijar na chuva. Ver o por do sol. Ir à igreja. Andar descalça. Viajar.
Pintar as unhas do pé. Chocolate. Ir ao cinema. Quando a campainha toca e é o
correio. Minha família. Comprar canetas.
Ouvir as pessoas e aconselha-las. Estudar. Presentes. Ver a alegria no próximo.
Abraços. Conhecer gente nova. Cachorros. Cantar Legião Urbana com meu pai.
Fotografar. Ficar com os amigos. O reencontro depois da despedida. Comer
brigadeiro de panela. Sonhar. Brincar de boneca. Assistir filmes. Crianças.
Imaginar alguém do outro lado da linha. Soltar pipa. Chupar sorvete. Rir até doer a barriga. O som que o vento faz.
Andar de bicicleta. Pizza. Brincar de leão com meus irmãos. Correr atrás de borboleta.
O calor num dia frio. Gibis. Ver o mar. Ir ao cabelereiro. Escrever.
Cama elástica. Ir ao zoológico. Trabalhar com o que gosto. Cheiro de terra
molhada. Deitar na rede. Descansar no colo da minha mãe. Poesia. Bolo de
cenoura. Ver através da janela. Desenho animado. Lembranças. Girafas. Caminhar
sem rumo algum. Atitudes. Mensagem de madrugada. Cafuné até pegar no sono. Cantar. Fatos que
para outras pessoas, não tem importância alguma. O silêncio em meio ao barulho.
Partir e ter alguém para quem voltar.
terça-feira, 28 de abril de 2015
Meu carma, meu acaso, minha paz.
É definitivamente mais fácil falar de um amor que machuca,
do que aquele que te faz bem. É mais
fácil porque, descrever algo que nos corrói, nos dá a sensação de alívio. Eu
nunca precisei falar da felicidade, pois de fato, era algo que eu observava de
longe. Eu a via através das outras pessoas, nunca através dos meus próprios
olhos. Quando você me sorriu e o mundo
todo pareceu estar virado do avesso, você me provou o contrário. Falar de você
não é tão difícil assim, só é desafiador. Dá medo de me equivocar e falar tudo
errado. Não falar mentiras, não. Você é todo verdade. Só dá medo de não dizer
tudo que você merece. Ou acha que merece. Meu orgulho limita qualquer descrição
das suas qualidades e do quanto você me ganhou por completa. Eu sempre tentarei
negar o efeito que você tem sobre mim, e você sabe disso. Não me culpe por ser
assim, é só o resultado de uma vida toda doando demais. Embora as palavras
façam caminho até minha boca, elas se perdem em minha garganta e eu volto a
engoli-las, mas eu tô tentando, juro! As
pessoas nos acham lindos juntos, mas elas não sabem que tudo é reflexo seu, que
desperta o melhor que existe em mim. Elas também não sabem que na maioria das vezes,
a gente se desentende e você vai embora no seu escort preto. Depois a gente se
arrepende, e dizemos em silêncio tudo que precisava ser dito. E quando acho que
encontrei mais um motivo para te amar, você me mostra que tenho outros mil e
cem para odiar você. Mas eu nunca consigo. E seu ego infla exatamente por isso.
Você é a causa da dor de cabeça e a própria cura dela. Esses dias, no seu
aniversário, eu tentei lhe escrever uma carta, e o papel ficou em branco o
tempo todo. Então descobri que amar é exatamente isso: Não saber descrever, só
sentir. Você é o espaço em branco que floresce todos os dias, mesmo eu tentando
esconder. É dentro do seu abraço que eu encontro a minha calma e amar você, é a
minha maior sina. “Você tirou a sorte grande quando me conheceu, confesse vai.”
Você diz enquanto beija meu pescoço. E eu luto incansavelmente contra a vontade
de concordar com você.
quinta-feira, 23 de abril de 2015
Equívoco.
Você não consegue enxergar que bagunçou tudo desde que chegou? Olhe só para a minha mobília, você desgastou tudo. Eu posso até ver você sentado na varanda com os braços cruzados, dizendo que eu sou louca e que não entende os meus versos disfarçados de verdade. Todo tempo eu fiquei camuflada, mas você me achou, descobriu meu esconderijo e expôs tudo que eu tive tanto trabalho pra esconder. Você confundiu meus sentidos, não percebeu meus poemas nas entre linhas e foi embora. Você pensou que tudo seria fácil, mas deixe-me dizer uma coisa: Mulher não é uma equação matemática que precisa ser resolvida, ela precisa ser estudada e assim, ser compreendida. Mulher é um bixo doido, e eu não sou diferente. Você chegou pela lateral do meu caminho torto, quis me enganar com seu jeito de menino do campo, e em minha defesa, eu omiti todo o meu sentimento. Aos poucos, você achou espaço, invadiu e fez a maior arruaça como se a casa fosse sua. E deixe-me lembrar: ela não é. E você não é mais bem-vindo aqui. Se você não é capaz de compreender a minha confusão, então não merece o meu afeto. Se não gosta de se molhar, não ande sob a chuva. Eu cansei e você sabe disso. Pegue todo o seu fardo e vá embora. Pode deixar que a bagunça eu limpo toda, sozinha mesmo, porque vai ser satisfatório aspirar todo o pó que você deixou. Não perca seu tempo tentando entender os meus parágrafos incompletos. Os meus versos, eles não são para quem os lê. Eles são para quem os sentem.
terça-feira, 14 de abril de 2015
Culpada.
Eu sei que você nunca acreditou em desculpas. Sei que elas
são vagas e não significam nada, sei disso. Mas eu preciso me desculpar. Então,
me desculpa. Desculpa a minha insensibilidade, a minha grosseria, a minha
rejeição. Desculpa a minha bagunça, o meu desarrumado, a minha confusão. Não é
você. Sou eu. Você não é culpado, eu quem fiz tudo errado. Sou eu quem transferiu
para os seus ombros largos, todo o meu fardo. A minha bagagem pesada e
carregada de sentimentos tristes. Foi o meu passado, a minha incerteza, as
minhas desilusões. Foi as mágoas que eu acumulei, as vírgulas espalhadas pela
minha história, foi as mentiras que me contaram. Foi a ferida que ficou aberta,
foi a cura que eu nunca encontrei. Eu não soube diferencia-lo, eu achei que
todos fossem iguais. Mas você não era. Eu fiquei com medo, eu te disse não. Eu
tive medo de amar de novo. Eu disse não pro seu amor. Me desculpa. Naqueles
dias em que eu não queria ver ninguém e você apareceu com chocolates e
sorvetes, me desculpe por isso também. Eu te prendi e te fiz perder tempo. Eu
sei, não vai adiantar mas eu queria que você soubesse que foi real. Todo o
nosso tempo. Me desculpa por ter te feito acreditar. Desculpa por tudo ter
começado, me desculpa pelo jeito como tudo terminou. Pedir para que você
voltasse seria ousado demais? Eu mereceria uma chance a mais? Desculpa, eu
nunca quis magoar você. É tarde demais?
terça-feira, 7 de abril de 2015
O amor está por aí.
O amor sempre esteve aqui, ao lado. Na minha frente, nas
minhas costas. Ele sempre me rodeou, mas me neguei a enxerga-lo. Por muito
tempo acreditei que o amor fosse algo que eu precisasse, por muito tempo me vi
numa busca interminável para encontra-lo. Eu to falando de um sentimento que
nomeei de “amor”. To falando daquele sentimento que a gente vê nos filmes da
Disney. To falando do príncipe encantado, e da minha fantasia em acreditar que eu
preciso de alguém para ser feliz. Eu acho que conheci o amor, uma vez. Faz
muito tempo. E foi um tempo doido. Depois, cabô. Nunca mais. A verdade, vou
contar, é que a todo momento, eu me precipitei. Eu achei que as coisas seriam
como eu as imaginava. Eu pensei que tudo ocorreria como os diálogos que criei
sozinha, deitada na minha cama. Então, vinha alguém e ploft! Me provava que eu
estava errada. E doía. Teve gente que disse que eu era burra. Que eu gostava de
sofrer. Na na ni na não! Não queridinho, não somos burros por acreditarmos nas
pessoas. Somos bons. Bons demais para aqueles que sentem prazer em iludir o
outro. E quem é bom, uma hora é recompensado. Depois de tanto tempo dando murro
em ponta de faca, minha definição sobre amor é outra. Amor é o que eu ofereço as pessoas, aceita
quem quer. Amor pra mim é o que vem de dentro.
E agora eu sou uma pessoa cheia. Eu sou alguém que transborda amor por
aí. Eu gosto de sorrir pra quem eu não conheço, eu gosto de conversar com desconhecidos
na fila do ônibus. Amor é você sentir vontade de ajudar aquele que tem menos
que você. Amor está nas pequenas coisas. No café que você prepara pra sua
família. No presente que você dá praquele que ama, mesmo não sendo nenhuma data
comemorativa. Amor é consolar quem precisa do seu ombro. É oferecer o silêncio
quando alguém só quer falar, falar e falar. E você ouve, porque sabe que é o
que ela precisa. Amor é oferecer a mão pra quem tá na beira do abismo. É
difícil, eu sei, dar amor. Tem gente que não aceita. Tem gente que tá ferida
demais pra acreditar de novo. Tem gente que pisa, machuca, porque um dia também
foi ferido. É difícil sorrir pra tudo, quando todo o mundo parece estar de cara
feia pra você. É difícil porque às vezes você não quer nem ouvir a própria voz,
quem dirá a do outro. Mas eu lhe garanto: Vale a pena. Por dentro às vezes, está tudo cinza, mas por
fora eu sou arco-íris. Eu aprendi que a minha dor, ela não é a maior do mundo.
E que ninguém tem culpa se na minha vida nada dá certo. As pessoas vão sempre
esperar o melhor de mim, porque é isso que a gente faz: cria expectativas. E eu
não to nem aí se eu me decepcionar, porque a minha bagagem já tá cheia. Eu
coleciono decepções e pra cada uma delas, eu dou um nome. Aprendizado. E assim,
eu dou o melhor. E faço o meu melhor. Esse foi o jeito que eu aprendi a
superar. As pessoas, elas não são iguais. Elas não possuem os mesmos erros, e
nós não devemos julga-las com antecipação. A vida toda vai passar e você vai
continuar batendo a cabeça na parede, vai continuar confiando em quem não
devia. Não tem como evitar, nós somos assim. E a cada encruzilhada, você vai
encontrar o caminho certo. E se o caminho estiver torto, endireite-o. E se as
pessoas quiserem consertar você, não deixe. Na vida, a gente encontra quem nos
ame pelo que somos, mas vamos encontrar quem nos odeie pelo mesmo motivo. Dentro de mim, eu carrego uma porção
gigantesca de amor, e eu vou distribui-lo. E sobre aquele amor que eu disse
antes, ele é bom. Ele é maravilhoso quando encontramos alguém que está disposto
a oferecer a mesma medida. E enquanto
ele não chega, vou treinando com o espelho. Vou me amando. A gente só é
perfeito para alguém, quando somos valiosos para nós mesmos.
segunda-feira, 6 de abril de 2015
Ela apenas é.
A luz do sol fazia um belo contorno ao redor dela. Com os
pés enlaçados um no outro, ela estava deitada naquela rede velha, toda
colorida, com um cacho de uva na mão. Parecia uma moleca daquele jeito. Ela
jogava algumas em minha direção, para eu tentar pega-las com a boca. Quando
errava, ela gargalhava, como seu eu fosse a pessoa mais engraçada do mundo. Ela
ria tão bonito, que comecei a errar propositalmente. Eu estava logo atrás,
sentado na cadeira de balanço do meu avô. Dedilhava uma música sem melodia no
violão, enquanto em silencio, a observava. De olhos fechados, ela mexia as mãos
no alto, como se regesse uma orquestra. –“ Não pare, John, não pare.” Mas então
ela veio até mim caminhando, com passos tranquilos e seguros, e me tomou pela mão. Larguei o violão e
iniciamos uma dança, no silencio. Uma música nossa. Enquanto ela acariciava
minha nuca, desejei que aquele momento jamais acabasse. Um passo em falso e
quando percebi, estávamos os dois no chão. O sol refletia na blusa vermelha
dela, e aquela cor, naquele momento, ela parecia um planeta. Marte. Quente. Um
lugar que só eu habitava. Ela então me beijou, demoradamente. Quando nos
soltamos, olhei bem em seus olhos de jabuticaba e disse: “Casa comigo Duda?”
Ela rolou pro lado, rindo. “Ah John, você é tão... Previsível! Venha, vou fazer
uma coisa pra você.” Ela me sentou na mesa enorme da minha vó, e começou a
bater rapidamente as portas do armário, em busca de alguma coisa. “Vou fazer um
bolo pra você, John. Um bolo de amor.” E foi ali que eu percebi, que não
importava o que acontecesse, valeu a pena. Se nossa vida acabasse agora, valeu
a pena cada segundo só por eu a ter conhecido. Valeu a pena porque tudo que há
nela falta em mim. E tudo que ela faz é certo. Ainda que seja errado, é certo.
E lindo. Porque ela simplesmente é, tudo... Tudo que há de extraordinário. Ela é a tristeza e a alegria andando junto.
Porque ela é a luz na escuridão. Ela é a areia do mar. Ela é a faísca que
mantém toda a nossa brasa acesa. O meu começo, meio e o fim. Ela é o lugar que
eu escolhi pra morar. E ficar, pra sempre.
Assinar:
Postagens (Atom)