quinta-feira, 12 de março de 2015

A Janela.

Com uma caneca de café na mão, me debrucei sobre o batente da minha janela. Enquanto a chuva caía forte lá fora, fiquei observando cada gota desenhar seu rosto no vidro, e senti quando um frio avassalador atravessou meu corpo. Quando dei por mim, uma lágrima insistia em cair, e com um sorriso, limpei-a com as minhas mãos. Eu não gosto de me lembrar de você com tristeza. Construir toda a nossa história, deu um trabalhão danado para eu ter que resumi-la em lágrimas. Ficou um “quê” de quero mais na nossa despedida. Embora saibamos que foi melhor assim, lá no fundo, nós sempre vamos querer mais de nós dois juntos. Porque era bom e ao mesmo tempo, tão errado. Nós não nos completávamos, nós nos entendíamos. E isso bastava. A compreensão, digo. Você nunca questionou o fato de eu dormir com os pés descobertos, e eu nunca te disse que você ficava horrível de samba canção e meias. E todo mundo dizia que era lindo nos ver assim, nos compreendendo. Mas só nós dois sabíamos que não era assim o tempo todo, e que alguma coisa faltava. Até hoje eu não sei dizer o que faltou. Nem você. Só foi assim, um dia depois do cinema, você me deixando em casa e no nosso beijo, uma faísca de adeus. Bem distante, eu conseguia ouvir aquela música do Coldplay, a The Scientist. Depois de se afastar você disse: - Então é isso. Eu não sabia se era uma pergunta então, só concordei: - É isso, então. Você entrou no carro, acelerou e se foi. No dia seguinte, não havia mensagens. Nos meses que se seguiram, não houve ligações. Não sei se você esperou, mas eu também não liguei. Nem mandei mensagem. E assim, nosso amor estacionou. Também não sei se foi amor, mas foi algo fora do normal.  E mágico. E que dá vontade de rir quando lembro. Mas que não dá vontade de viver de novo. É uma confusão interna que eu nunca soube entender, quem dirá explicar. Tentei tanto desvendar nossos mistérios, que cheguei à conclusão que a gente nunca teve conserto. Não sei nem se a gente quebrou. Mas a gente deu certo, sim. E essa foi nossa missão: Sermos felizes. Fomos por um longo período e fim. Fui ser feliz com meus livros, e você, com seus discos de vinil. Nosso adeus foi em paz. Silencioso e inesperado. Não teve gritos, nem batidas na porta e nem palavrões. Foi um beijo e só. Intenso e carregado de culpa. Pelo oque? Não sabemos. Aqui sentada, olhando pela janela, eu senti sua falta. Eu nunca pensei que sentiria. Sob essa janela, há tantos pensamentos confusos que você não compreenderia, mas aceitaria, de bom grado. Diante dela, há um punhado de coisas que faríamos juntos. E faríamos bem feito! Além da janela, há um mundo que um dia chamamos de nosso. E só hoje eu percebi, tarde demais, que ele não faz o menor sentido sem você.


Nenhum comentário:

Postar um comentário