- “Se você pudesse ser um animal, qual seria?” Você me
olhou de canto, com aquela expressão que sempre tem quando me acha louca.
Quando estava quase me arrependendo por ter perguntado, você entrou na minha: -
“Um pássaro. Porque eu quero ser livre. E eu sou livre. E eu gosto de voar. Eu
gosto de sentir a brisa tocar meu rosto.” Ali, entendi porque você dirigia com
o rosto pra fora da janela do carro. A cama de solteiro era pequena demais pra
nós dois, então você me trouxe mais pra perto, enlaçando suas pernas nas minhas.
– “E você?” - “Uma girafa”. Respondi com
o rosto enterrado no seu pescoço, encabulada. – “Porque ela é amarela”. Você
gargalhou. Eu sabia que estava tirando sarro da minha cara, mas caramba, como
eu amo ouvir você gargalhando! – “Você seria alta demais. Eu gosto de você
assim, pequena. Eu gosto que você caiba no meu colo.” Você sabe que eu nunca
sei o que dizer, então eu o beijo. Intensamente. É o que eu sempre faço, quando
as palavras faltam. Naquele chuvoso domingo de janeiro, depois de termos dito coisas que nos
arrependeríamos, você gritou que precisava de um tempo. Um tempo de nós. Eu
gritei de volta para que você voasse para longe de mim, afinal era um pássaro.
Arregalando os olhos, você bateu a porta. Eu fiquei na janela enquanto o via se
afastar, embaixo da chuva fria, sem olhar pra trás. Eu quis ser grande naquela noite. Forte e resistente. Mas
você sempre teve razão. Eu era pequena e frágil. Seu colo era tudo que
precisava.
E aí, teve uma sexta-feira fria, e eu recusei o convite daquela minha colega de
quarto da época da faculdade que você nunca aprovou, ela me convidou para sair
por aí, mas eu não quis. Acho que parte de mim sabia, sabia que ainda havia
você. Sempre haveria você. Eu estava embolada até a cabeça nas cobertas quando ouvi
fortes batidas na porta. E quando a abri, fechei os olhos para tentar acordar
daquele sonho que imaginei estar, mas quando os abri novamente, lá
estava você. Com um passo, você ficou tão perto que, eu podia ver as pálpebras
dos seus olhos inchados, o que indicava que você esteve chorando. E antes que
eu pudesse abraça-lo, você me puxou para si e selou seus lábios nos meus com
uma urgência profunda. Seus lábios se afastaram, e com a testa encostada na
minha, você sussurrou: - “Pelo amor de Deus, onde eu estava com a cabeça? Eu
sou um pássaro, eu sei. Mas não sei ser livre, pequena. Não sei me libertar de
você.” Naquela noite entendi. Entendi sua forma de amar. De todos os caminhos que
trilhou, você escolheu o meu. De todos os ninhos em que pousou, você voltou pro
nosso.
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