terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

De todos os amores, o primeiro.




O nosso amor foi uma coisa louca, não acha? O nosso amor, foi uma coisa que ninguém entendeu. Ninguém acreditou. Nem eu. Nunca botei fé no nosso amor. Nem em você. Mas ele foi real, do nosso jeito. A gente viveu um dia de cada vez e ele foi eterno assim, dentro do pouco tempo que nos foi permitido. E quando ele acabou, eu sofri. Você sabe. Você também sofreu. Eu sei. E, sabe, foi difícil me acostumar com a sua falta. Eu nunca superei sua perda. Mas eu cansei de chamar seu nome e uma dor latejante me atingir, então eu só aceitei. E chorei baixinho, todas as noites. Todas as noites também, você apareceu para me lembrar do quanto me amou. Mas isso não era suficiente. Eu sempre te disse que só o amor não bastava. Naquela época, para nós, o amor era tudo, mas esse tudo ainda era pouco. Você nunca me entendeu. Todos esses anos quando escondida, eu olhava para aquela nossa foto no fundo da minha gaveta, algo dentro de mim, pulsava. Eu queria te dizer que eu pensei em você. Muito. Eu ainda penso, todos os dias. Gosto de lembrar da gente. Da gente caindo de bicicleta, e fazendo sanduíche na minha cozinha. Da gente brincando de esconde esconde na varanda da sua casa, e de dormir assistindo filmes desinteressantes.  Gosto de lembrar da gente correndo na chuva, do meu cabelo grudado no rosto, e você o afastando para me olhar melhor. Gosto de fechar os olhos e ver você. Sempre sorrindo. Me fazendo sorrir também. De você, todo bobo. De mim, toda cega. Sorrir da nossa vida, toda louca. Esta, era pra ser uma carta de despedida, mas você sabe que eu não sou nada boa com despedidas. Eu nunca soube dizer adeus. Nem a você. Você foi embora  e eu nem pude dizer tudo que precisava ser dito. Mas você sabia. Você sempre soube do que se passava aqui, dentro. Nosso amor foi assim, perturbado, elétrico e insano demais. Além de tudo que possa ser explicado. E embora fossemos assim, complicados demais, estarmos juntos, era o que precisávamos. E quando as palavras faltavam, o silencio se fazia presente. Nos perdíamos nele. Nos encontrávamos dentro do mundo que era só nosso. Nos realizávamos no meio dos nossos sonhos. Na verdade, nunca planejamos nada, porque sabíamos que não haveria futuro. E era mais gostoso viver assim. Nós e o presente. Meu futuro ainda é inserto, sabe? Mas meu passado carrega um punhado de você... Ele é repleto de você. É por isso que não sei dizer adeus. E nem quero. Você não foi meu último amor, e nem será o único. Mas foi o primeiro. E não importa quantos venham, serão sempre comparados a você.  De todos os amores que terei, é de você que quero sempre me lembrar.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Livre.

- “Se você pudesse ser um animal, qual seria?” Você me olhou de canto, com aquela expressão que sempre tem quando me acha louca. Quando estava quase me arrependendo por ter perguntado, você entrou na minha: - “Um pássaro. Porque eu quero ser livre. E eu sou livre. E eu gosto de voar. Eu gosto de sentir a brisa tocar meu rosto.” Ali, entendi porque você dirigia com o rosto pra fora da janela do carro. A cama de solteiro era pequena demais pra nós dois, então você me trouxe mais pra perto, enlaçando suas pernas nas minhas. – “E você?”  - “Uma girafa”. Respondi com o rosto enterrado no seu pescoço, encabulada. – “Porque ela é amarela”. Você gargalhou. Eu sabia que estava tirando sarro da minha cara, mas caramba, como eu amo ouvir você gargalhando! – “Você seria alta demais. Eu gosto de você assim, pequena. Eu gosto que você caiba no meu colo.” Você sabe que eu nunca sei o que dizer, então eu o beijo. Intensamente. É o que eu sempre faço, quando as palavras faltam. Naquele chuvoso domingo de janeiro, depois de termos dito coisas que nos arrependeríamos, você gritou que precisava de um tempo. Um tempo de nós. Eu gritei de volta para que você voasse para longe de mim, afinal era um pássaro. Arregalando os olhos, você bateu a porta. Eu fiquei na janela enquanto o via se afastar, embaixo da chuva fria, sem olhar pra trás. Eu quis ser grande naquela noite. Forte e resistente. Mas você sempre teve razão. Eu era pequena e frágil. Seu colo era tudo que precisava. 
E aí, teve uma sexta-feira fria, e eu recusei o convite daquela minha colega de quarto da época da faculdade que você nunca aprovou, ela me convidou para sair por aí, mas eu não quis. Acho que parte de mim sabia, sabia que ainda havia você. Sempre haveria você. Eu estava embolada até a cabeça nas cobertas quando ouvi fortes batidas na porta. E quando a abri, fechei os olhos para tentar acordar daquele sonho que imaginei estar, mas quando os abri novamente, lá estava você. Com um passo, você ficou tão perto que, eu podia ver as pálpebras dos seus olhos inchados, o que indicava que você esteve chorando. E antes que eu pudesse abraça-lo, você me puxou para si e selou seus lábios nos meus com uma urgência profunda. Seus lábios se afastaram, e com a testa encostada na minha, você sussurrou: - “Pelo amor de Deus, onde eu estava com a cabeça? Eu sou um pássaro, eu sei. Mas não sei ser livre, pequena. Não sei me libertar de você.” Naquela noite entendi. Entendi sua forma de amar. De todos os caminhos que trilhou, você escolheu o meu. De todos os ninhos em que pousou, você voltou pro nosso.