quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Nosso coração vazio, nossa alma cheia de amor.

O tempo não tinha nos feito tão mal, afinal. Você continuava com o mesmo vício de ter as mãos no bolso e observar as pessoas ao redor como se pudesse adivinhar seus pensamentos. Eu tinha me esquecido do quanto era bonito te ver assim, distraído.
- O que aconteceu com a gente? Eu disse enquanto passava do outro lado da rua. E me notando, você virou em minha direção, os olhos cheios de uma esperança adormecida:
- O que disse? Mas aí eu tive medo, e como sempre, fixei meu olhar na minha unha descascada de vermelho. Se você estivesse mais perto, puxaria minhas mãos e diria que eu poderia confiar em você, se quisesse. Mas isso foi há tanto tempo que parece tudo fruto da minha imaginação. Apertei com mais força meus livros contra o peito e entrei no primeiro ônibus que avistei. Aos poucos, ganhando velocidade, o ônibus se afastou e você ficou lá trás, pequeno, distante. Antes, quando era fácil fazer poema com a nossa sintonia, mesmo assim você às vezes, estava distante. Mesmo estando à um palmo de distância, quando esticava minhas mãos, não conseguia toca-lo. Sei que em silêncio, por muitas vezes, você gritou meu nome. Sua voz carregada de apelo e eu não o ouvia. Eu nunca encontrei o que havia de errado na gente. Eu nunca entendi porque a gente sentia tanto e demonstrava tão pouco. Um dia, deitados naquela esteira velha, com o mar sendo nosso plano de fundo, enquanto brincava com as pontas do meu cabelo, você me cochichou: - Por que a gente dá certo? Eu me virei, encarando-o nos olhos: - Culpe o destino. Eu sempre tive essa mania tola de culpar o destino por tudo que nos aconteceu, e agora, com esse caminhão de mudanças que nos deixou sozinhos, eu não sei dizer porque o destino quis assim. Mesmo dando certo, a gente deu errado. Calados, consentimos que o melhor era você me deixar sozinha naquela casa na praia e voltar pra sua família no campo. Nunca entendemos o porquê, mas foi assim. Contudo, lá no fundo, dentro de nós, palavras não ditas ficaram presas. Palavras talvez, de afeto e arrependimentos. Palavras estas que o vento levou, o tempo apagou, mas a gente nunca esqueceu.